Chegou cedo. Não me disse nada, nem mesmo o corriqueiro bom dia ou aquele sorriso malicioso, me deixou na saudade daquele olhar sedutor, que me tirava o fôlego. Passou sério e direto, sem olhar para os lados, como se eu fosse um poste ou ninguém, pois as vezes é preciso notar os postes ou a gente dá com a cara neles. Fiquei pensando em mil coisas. O que teria acontecido afinal? O que teria me roubado o sagrado direito daquele olhar sedutor e daquele sorriso inebriante de todas as manhãs? Não podia entender e mais que essa indiferença ferira me a alma eu lutava por encontrar uma justificativa. Não, nada justificaria, eu pensei.
O Tempo parou. Toda vez que eu olhava o relógio parecia que ele estava no mesmo ponto. E essa hora de intervalo que não chega nunca. Uma ansiedade jamais sentida invadiu-me, medo. Sim medo. Medo de perder quem eu nunca havia possuido de verdade. Mas que importa isso, se nos sonhos, era essa a verdade mais absoluta? A maior de todas as luxúrias e a mais intensa entrega? Em meus sonhos essa era sim a volúpia que me consumia me arrancava suspiros de prazer intenso.
Luxúria é pécado. Dizem. Se é, é só para os mortais. Não para os deuses, não para nós. Mas agora quem iria trazer de novo o brilho aos meus olhos? Como viveria eu sem aquele sorriso e aquele olhar cúmplice que alimentava meus sonhos todos os dias, o dia todo? Seriam me negados para sempre? Como eu viveria sem saborear a volúpia daquele olhar matinal?
O tempo congelara, definitivamente. E eu esperava ansiosamente. Observava até mesmo o movimento e as batidas das portas. Ao menor sinal de um abrir e fechar levantava os olhos na mais cega ilusão de que veria, por um instante que fosse aqueles olhos que me diziam em silêncio: Te quero! Mas nada, nada.
O Tempo petrificou-se. Nada mais a fazer. As portas não se abrem e nem se fecham, parecem que não existem. Além disso as tarefas nos colocou em lugares diferentes, separados agora, não só por corredores e paredes, mas também pela indiferença. O tempo fechou-lhe os olhos. A luxúria de um olhar e a volúpia de um sorriso agora era apenas imaginação e desejo, desejo que me consumia por dentro.
Enfim, parece que o tempo ou o relógio andara. Mas a porta continua fechada. O corredor vazio. Espero, passam-se os segundos, minutos, muitos. Já não posso mais esperar, é o limite do tempo e da identidade digital, tenho que passá-la no tempo exato, foi todo o limite de tempo. Dou as costas àquele corredor longo e vazio, caminho em direção à máquina e passo a identidade e ainda olhei pra trás, o mesmo vazio. Resperei fundo e doeu-me na alma. Cheguei à porta de saída, sem mesmo desejar sair.
Devo atravessar a rua. Sinal fechado. Espero. Desejo olhar pra trás, mas no desejo de conter a dor da alma, contenho-me. Dói o coração. O sinal vai abrir.
Posso te acompanhar? Meus olhos brilharam, meu coração saltou de alegria sem mesmo olhar na sua direção. Ao contemplá-lo, foi o mais eficaz de todos os medicamentos que eu poderia desejar para minhas dores. O sinal fechou-se antes que atravessássemos a rua. Eu sorria e ele também.
E naquela noite enfim, eu experimentaria na carne o gosto da luxúria e o sabor da volúpia de meus sonhos. E é verdade, a mais pura verdade. Luxúria e volúpia podem ser pecado, mas só para os mortais, não para os deuses, não para nós. E naquela noite erámos apenas deuses num amor nem um pouquinho humano. E mesmo que fosse por uma noite apenas, mesmo que esse manjar dos deuses durasse apenas uma noite teria valido a pena.
Afinal quem precisa de mil e uma noites, se é apenas uma que se pode ter por vez?
Arthur Alter
O Tempo petrificou-se. Nada mais a fazer. As portas não se abrem e nem se fecham, parecem que não existem. Além disso as tarefas nos colocou em lugares diferentes, separados agora, não só por corredores e paredes, mas também pela indiferença. O tempo fechou-lhe os olhos. A luxúria de um olhar e a volúpia de um sorriso agora era apenas imaginação e desejo, desejo que me consumia por dentro.
Enfim, parece que o tempo ou o relógio andara. Mas a porta continua fechada. O corredor vazio. Espero, passam-se os segundos, minutos, muitos. Já não posso mais esperar, é o limite do tempo e da identidade digital, tenho que passá-la no tempo exato, foi todo o limite de tempo. Dou as costas àquele corredor longo e vazio, caminho em direção à máquina e passo a identidade e ainda olhei pra trás, o mesmo vazio. Resperei fundo e doeu-me na alma. Cheguei à porta de saída, sem mesmo desejar sair.
Devo atravessar a rua. Sinal fechado. Espero. Desejo olhar pra trás, mas no desejo de conter a dor da alma, contenho-me. Dói o coração. O sinal vai abrir.
Posso te acompanhar? Meus olhos brilharam, meu coração saltou de alegria sem mesmo olhar na sua direção. Ao contemplá-lo, foi o mais eficaz de todos os medicamentos que eu poderia desejar para minhas dores. O sinal fechou-se antes que atravessássemos a rua. Eu sorria e ele também.
E naquela noite enfim, eu experimentaria na carne o gosto da luxúria e o sabor da volúpia de meus sonhos. E é verdade, a mais pura verdade. Luxúria e volúpia podem ser pecado, mas só para os mortais, não para os deuses, não para nós. E naquela noite erámos apenas deuses num amor nem um pouquinho humano. E mesmo que fosse por uma noite apenas, mesmo que esse manjar dos deuses durasse apenas uma noite teria valido a pena.
Afinal quem precisa de mil e uma noites, se é apenas uma que se pode ter por vez?
Arthur Alter