quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Da Lei

Aquele acreditava na lei. Funcionário do IAPC, sabia de cor a lei orgânica da Previdência. Chegava mesmo a ser consultado pelos colegas sempre que surgia alguma dúvida quanto à aplicação deste ou daquele princípio. Eis que um dia nasce-lhe um filho e ele, cônscio de seus direitos, requer da Previdência o auxílio-natalidade. Prepara o requerimento, junta uma cópia da certidão de nascimento da criança e dá entrada no processo. Estava dentro da lei, mas já na entrada a coisa enguiçou.
__ Não podemos receber o requerimento sem o atestado do médico que assistiu a parturiente.
__ A lei não exige isso – replicou ele.
__ Mas o chefe exige. Tem havido abusos.
Estava montado o angu. O rapaz foi até o chefe, que se negou a receber o requerimento, como manda a lei.
__ Vou aos jornais – disse-me o crédulo. – Eles têm de receber o requerimento como manda a lei.
Tentei aconselhá-lo: a justiça é cega e tarda, juntasse o tal atestado médico, era mais simples.
__ Não junto. A lei não me obriga a isso. Vou aos jornais.
Foi aos jornais. Aliás foi a um só, que deu a notícia num canto de página, minúscula. Ninguém leu, mas ele fez a notícia chegar até o chefe que, enfurecido, resolveu processá-lo: a lei proíbe que funcionários levem para os jornais assuntos internos da repartição.
__ Agora a lei está contra você, não?
__ Não. A lei está comigo.
Estava ou não estava, o certo é que o processo foi até a Procuradoria e saiu dali com o seguinte despacho: suspenda-se o indisciplinado.
Era de ver-se a cara de meu amigo em face dessa decisão. Estava pálido e abatido, comentando a sua perplexidade. Mas não desistiu:
Vou recorrer.
Deve ter recorrido. Ainda o vi várias vezes contando aos colegas o andamento do processo, meses depois. Parece que já nem se lembra do auxílio-natalidade – a origem de tudo – e brigará até o fim da vida, alheio a um aforismo que, por ser brasileiro, gosto de repetir: “Quem acredita na lei, esta lhe cai em cima.” (FG)

Provavelmente, quando a lei lhe conceder ganho de causa - se, e somente se, - o filho terá seus 15 ou 20 anos. A lei é lenta, cega, injusta e burra...
E é bem assim que funciona a coisa pública no nosso Brasil varonil.
Arthur Alter

8 comentários:

  1. Nossa, quanta burocracia, quantos problemas para se fazer aplcar a tal lei... para que tudo isso, a quem ela serve? otima reflexão. bj.

    ResponderExcluir
  2. Dizer o q né!!?! Eu sei bem como isso funciona. Eu trabalho em repartição pública kkkk
    Bom findi de carnaval pra ti.
    Bju meu e do Alê.

    ResponderExcluir
  3. Querido Arthur:

    A Burrocracia é que astravanca o pogresso...rs
    Òtimoooo carnaval...beijoooo.

    ResponderExcluir
  4. Os advogados retrucam: a culpa não é do judiciário, e sim, do legislativo. E nessa de 'quem é a culpa', nada muda.
    Bom achar blogs assim...em pleno Carnaval?! Sorte minha.
    inté

    ResponderExcluir
  5. Engraçado neh, do trecho que disse que agora ele já nem se lembra a causa mesmo de tudo, de onde surgiu, mas que continua nisso. Muitos acabam tendo que pagar pra não se estressar. =/

    sempre lembro de vc, jay e ale, do dil, do gilson, foram blogs que eu conheci e não eskeço
    principalmente pela educação e amizade dos donos

    Excelente fim de semana e nova semana pra vc, arthur
    se cuida
    abraço ^^

    ResponderExcluir
  6. * Muitos acabam tendo que pagar pra não se estressar. Ele tá meio que fazendo ao contrário. -- eskeci de completar o raciocínio haha

    =]

    ResponderExcluir
  7. melhor eu me preparar para esperar a lei, pois eu acredito nela

    ResponderExcluir
  8. olha, eu nunca acreditei mto nas leis
    mas recentemente, quando o STF ou o STJ (nao sei direito qual dos dois ahahaha) decretou a prisao do governador Arruda, sei lá, adorei. Isso é um bom sinal de amadurecimento da nossa democracia e talz


    acredito que a tendencia a partir de agora é q as coisas comecem a melhorar

    enfim
    fui

    ResponderExcluir